O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um dos transtornos de personalidade mais complexos e desafiadores para profissionais da saúde mental. Para diagnosticar, monitorar e entender a gravidade dos sintomas relacionados a esse transtorno, ferramentas confiáveis e objetivas são essenciais. É nesse contexto que a Lista de Sintomas Borderline – versão reduzida (BSL-23) ganha destaque, oferecendo um meio eficiente para mensurar o sofrimento emocional e comportamental característicos do TPB.
O que é a Lista de Sintomas Borderline (BSL-23)?
A BSL-23 é um instrumento de autorrelato desenvolvido para avaliar a severidade dos sintomas associados ao Transtorno de Personalidade Borderline em um intervalo recente, especificamente nos últimos sete dias. Criada a partir de uma versão maior (BSL-95), a BSL-23 reúne 23 itens que refletem experiências subjetivas dos pacientes, incorporando critérios diagnósticos do DSM-IV e informações da entrevista DIB-R.
Essa integração entre critérios formais e queixas relatadas pelos próprios pacientes aumenta a validade clínica da escala, tornando a BSL-23 útil tanto em pesquisas quanto no acompanhamento e formulação de casos em contexto clínico.
Estrutura e aplicação da Lista de Sintomas Borderline (BSL-23)
A BSL-23 é composta por 23 afirmações às quais o paciente responde em uma escala Likert de 0 a 4, em que “0” significa “nem um pouco” e “4” significa “muito fortemente”, considerando o que foi sentido na última semana. A aplicação é rápida, levando apenas alguns minutos, o que facilita o uso rotineiro na clínica.
Os itens abordam, por exemplo, sentimentos intensos de angústia, ódio de si mesmo, sintomas dissociativos, impulsividade, medo de abandono, solidão e outras experiências típicas do TPB. As instruções orientam o respondente a ser honesto e, em caso de grande variação ao longo da semana, a marcar a média do que foi sentido no período.
Subescalas e dimensões da Lista de Sintomas Borderline (BSL-23)
Diferentemente de escalas com múltiplas dimensões, a BSL-23 é unidimensional, medindo um único fator geral que representa a gravidade da sintomatologia borderline.
Esse fator abrange um conjunto amplo de manifestações, como:
Instabilidade afetiva
Autoimagem negativa e sentimento de inutilidade
Impulsividade
Medo intenso de abandono
Sintomas dissociativos
Ideação suicida
Estudos de confiabilidade indicam que a BSL-23 explica aproximadamente 55% a 57% da variância dos sintomas associados ao TPB, com itens como “Senti que não valia nada”, “Senti grande angústia em mim” e “Me odiei” apresentando as maiores cargas fatoriais.
Pontuação e interpretação da Lista de Sintomas Borderline (BSL-23)
A pontuação total varia de 0 a 92, resultante da soma das respostas aos 23 itens.
Ainda não existem pontos de corte validados especificamente para a população brasileira, o que exige cautela. De modo geral, escores mais elevados indicam maior gravidade clínica dos sintomas associados ao TPB. Na prática, recomenda-se comparar os resultados com dados normativos disponíveis em estudos ou acompanhar os escores de forma longitudinal, observando tendências de melhora ou agravamento ao longo do tempo.
População-alvo e usos recomendados
A BSL-23 foi validada inicialmente em amostra não clínica de adultos jovens brasileiros, mas pode ser utilizada tanto em pesquisas quanto no acompanhamento de pacientes em serviços de saúde mental.
Principais usos:
Triagem preliminar da gravidade sintomática em TPB
Monitoramento da evolução clínica durante intervenções terapêuticas
Apoio à formulação de casos, com base na intensidade e no padrão de sintomas
Avaliação dimensional da sintomatologia, complementando o diagnóstico categórico
É fundamental que seu uso esteja sempre integrado a uma avaliação clínica mais ampla, não devendo ser utilizada de forma isolada para fechar diagnósticos.
Cuidados éticos e limitações de uso da Lista de Sintomas Borderline (BSL-23)
Apesar de suas boas propriedades psicométricas iniciais, a BSL-23 apresenta algumas limitações importantes:
A validação inicial foi feita em amostra não clínica, o que exige cautela na generalização para pacientes com diagnóstico formal de TPB.
Não há normas específicas para diferentes faixas etárias ou contextos culturais dentro do Brasil.
Faltam dados robustos sobre sensibilidade à mudança clínica em populações de pacientes, limitando seu uso como medida única de eficácia terapêutica.
A aplicação deve ser feita sob supervisão de profissional habilitado e sempre acompanhada de entrevistas clínicas e outros instrumentos complementares.
Do ponto de vista ético, é essencial esclarecer ao paciente a finalidade da avaliação, garantir confidencialidade e acolher o conteúdo sensível que frequentemente emerge ao responder a BSL-23.
Sensibilidade e uso longitudinal
Embora ainda sejam necessárias mais pesquisas, a BSL-23 demonstra potencial para detectar mudanças clínicas ao longo do tratamento, permitindo ao terapeuta observar se há redução na intensidade dos sintomas nucleares do TPB.
Itens relacionados a comportamentos autolesivos e ódio direcionado a si mesmo (como 5, 7, 11, 12, 18, 19 e 23) exigem atenção redobrada, pois podem estar associados a risco aumentado de autoagressão. Da mesma forma, escores elevados em itens ligados a isolamento social e desesperança (como 2, 8, 20 e 22) podem sinalizar a necessidade de intervenções focadas em conexão interpessoal, construção de sentido e regulação emocional.
Na prática clínica, combinar a BSL-23 com outras medidas, como a DERS (Dificuldades na Regulação Emocional) ou o DASS-21 (Depressão, Ansiedade e Estresse), enriquece a compreensão do quadro e auxilia na construção de intervenções mais específicas.
Evidências psicométricas no contexto brasileiro
Estudos brasileiros apontam boa confiabilidade e validade da BSL-23, reforçando seu potencial de uso como instrumento auxiliar na avaliação de sintomas borderline. Ainda assim, há consenso sobre a importância de novas pesquisas que definam normas mais precisas e aprofundem a análise de sua sensibilidade longitudinal em amostras clínicas.
Como ter acesso à Lista de Sintomas Borderline (BSL-23)
Profissionais e pesquisadores podem acessar gratuitamente a versão brasileira da BSL-23, incluindo manual, chave de correção e informações técnicas, por meio da Biblioteca de Instrumentos da HumanTrack:
https://bibliotecadeinstrumentos.com.br/instrumentos/lista-de-sintomas-borderline-bsl-23__27f4f7db-fccb-4054-9997-ed2b7a655b62
Conclusão
A Lista de Sintomas Borderline (BSL-23) é uma ferramenta valiosa para mensurar, de forma qualitativa e quantitativa, a gravidade dos sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline. Ela facilita a triagem, contribui para a formulação clínica e auxilia no monitoramento da resposta ao tratamento.
Apesar das limitações relacionadas à ausência de pontos de corte específicos para o Brasil e à necessidade de mais estudos sobre sensibilidade longitudinal, sua rapidez de aplicação, clareza e sólida base teórica a tornam um importante instrumento complementar na prática clínica. Para profissionais que desejam qualificar suas avaliações em TPB, integrar a BSL-23 à rotina é um passo estratégico para uma intervenção mais precisa e centrada no paciente.






