O entendimento da personalidade e de seus transtornos passou por transformações importantes nas últimas décadas. O tradicional modelo categorial dos manuais diagnósticos começou a ser questionado, dando espaço a abordagens dimensionais que reconhecem os traços de personalidade em um contínuo. Dentro desse contexto, o Inventário de Personalidade para o DSM-5 – Adulto (PID-5) surge como uma ferramenta robusta e inovadora, capaz de mapear traços patológicos da personalidade segundo o modelo alternativo proposto na Seção III do DSM-5. Neste texto, vamos explorar o que é o PID-5, sua estrutura, aplicações, interpretações e relevância para a clínica e para a pesquisa em saúde mental.

O que é o Inventário de Personalidade para o DSM-5 – Adulto (PID-5)?

O PID-5 é um instrumento de autorrelato desenvolvido para mensurar traços patológicos da personalidade em adultos acima de 18 anos. Criado por Robert F. Krueger e colaboradores no âmbito da American Psychiatric Association (APA), ele operacionaliza o Critério B do modelo alternativo de transtornos de personalidade do DSM-5, que propõe uma avaliação dimensional — e não categórica — dos traços desadaptativos. Em outras palavras, o PID-5 não classifica o indivíduo dentro ou fora de um diagnóstico, mas avalia intensidades e variações desses traços ao longo de dimensões contínuas.

Essa abordagem é mais congruente com evidências contemporâneas da psicopatologia e com modelos amplamente estudados, como o Big Five e a HiTOP. O inventário é composto por 220 itens que contemplam 25 facetas específicas da personalidade, agrupadas em cinco domínios amplos. Com isso, o PID-5 permite uma avaliação detalhada da estrutura da personalidade e uma compreensão clínica mais refinada e individualizada.

Estrutura e aplicação do PID-5

O PID-5 é aplicado por autorrelato. O paciente responde a cada item usando uma escala Likert de 4 pontos:

• 0 – Muito falso ou frequentemente falso

• 1 – Às vezes ou um pouco falso

• 2 – Às vezes ou um pouco verdadeiro

• 3 – Muito verdadeiro ou frequentemente verdadeiro

Alguns itens têm pontuação invertida para garantir consistência nas respostas, conforme instruções da chave de correção.

Os 220 itens estão distribuídos em 25 facetas, que avaliam aspectos como anedonia, ansiedade, afetividade restrita, busca de atenção, crenças incomuns, impulsividade, hostilidade, retraimento, perfeccionismo rígido, entre outros. Cada faceta contém entre quatro e catorze itens, cuja soma é dividida pelo número total de itens daquela faceta para gerar uma pontuação média a ser interpretada.

Subescalas e dimensões do PID-5

As 25 facetas são organizadas em cinco domínios amplos:

• Afetividade Negativa: tendência a experimentar emoções negativas de forma intensa e persistente, incluindo ansiedade, labilidade emocional e insegurança de separação.

• Desapego: padrões de retraimento social, evitação de intimidade, anedonia e distanciamento emocional.

• Antagonismo: envolve manipulação, desonestidade, hostilidade e grandiosidade, refletindo comportamentos egocêntricos e falta de empatia.

• Desinibição: combina impulsividade, irresponsabilidade, distraibilidade e busca de gratificação imediata.

• Psicotismo: inclui crenças e experiências incomuns, excentricidade e desregulação cognitiva ou perceptiva.

Cada domínio é calculado pela média das facetas correspondentes. Por exemplo, o domínio de Afetividade Negativa inclui as facetas Labilidade Emocional, Ansiedade e Insegurança de Separação.

Pontuação e interpretação do PID-5

Os escores do PID-5 variam de 0 a 3 em cada faceta e domínio:

• 0 a 1.0: baixa expressão do traço

• 1.1 a 2.0: presença significativa do traço

• 2.1 a 3.0: expressão acentuada e potencialmente disfuncional

É fundamental notar que o PID-5 não realiza diagnóstico. Ele complementa a avaliação clínica e oferece um mapa detalhado dos riscos psicológicos e dos padrões de funcionamento.

Alguns exemplos clínicos:

• Altos escores em Afetividade Negativa e Desinibição podem sugerir vulnerabilidades compatíveis com transtorno de personalidade borderline.

• Elevações em Antagonismo podem indicar traços narcisistas ou antissociais.

• Valores altos em Psicoticismo refletem maior propensão a experiências perceptuais incomuns.

População-alvo e usos recomendados

O PID-5 é indicado para adultos acima de 18 anos e pode ser usado para:

• Complementar avaliações diagnósticas de transtornos de personalidade

• Identificar perfis de risco psicológico

• Auxiliar na formulação de casos clínicos

• Direcionar estratégias psicoterapêuticas

• Monitorar mudanças ao longo do tratamento

• Desenvolver estudos psicométricos e epidemiológicos

Por conter 220 itens, é recomendado que sua aplicação ocorra em ambiente controlado e com acompanhamento profissional.

Cuidados éticos e limitações de uso

Embora valioso e robusto, o PID-5 exige cuidados:

• Não substitui avaliação clínica completa

• Pode ser influenciado por estado emocional momentâneo

• Requer compreensão adequada das instruções

• Deve ser interpretado por profissionais capacitados

• Envolve dados sensíveis e exige confidencialidade rigorosa

Sensibilidade e uso longitudinal

Por ser dimensional, o PID-5 pode ser reaplicado ao longo do tratamento para monitorar a evolução dos traços patológicos. A sensibilidade à mudança torna o instrumento útil para acompanhar ganhos terapêuticos, riscos e oscilações clínicas, contribuindo para ajustes dinâmicos no plano terapêutico.

Como ter acesso ao Inventário de Personalidade para o DSM-5 – Adulto (PID-5)

A versão brasileira do PID-5, com instruções completas, chave de correção e informações técnicas, pode ser acessada gratuitamente pela Biblioteca de Instrumentos da HumanTrack:

https://bibliotecadeinstrumentos.com.br/instrumentos/inventario-de-personalidade-para-o-dsm-5-adulto-pid-5__4d5ef9e5-dd61-4a51-be2b-9ed308c08844

Conclusão

O Inventário de Personalidade para o DSM-5 – Adulto (PID-5) é uma ferramenta essencial para profissionais da saúde mental que desejam uma compreensão mais refinada e dimensional da personalidade. Ele permite avaliar e monitorar traços desadaptativos com profundidade, oferecendo subsídios valiosos para a formulação clínica e o planejamento terapêutico. Para quem busca aprimorar suas práticas clínicas ou desenvolver pesquisas fundamentadas, o PID-5 é um aliado indispensável.